Apainelando o Morreu: Expressões e Tradição

A morte é um tema universal que atravessa culturas, religiões e tradições. Em Portugal, as expressões e tradições relacionadas com a morte são profundamente enraizadas na cultura e na língua. Este artigo explora algumas dessas expressões e tradições, oferecendo uma visão abrangente sobre como os portugueses lidam com o tema da morte, tanto no discurso quotidiano como nos rituais.

Expressões Idiomáticas Relacionadas com a Morte

A língua portuguesa é rica em expressões idiomáticas que refletem a maneira como os seus falantes veem e entendem a vida e a morte. Algumas dessas expressões são usadas de forma metafórica, enquanto outras são mais literais. Aqui estão algumas das mais comuns:

1. Bater a bota
Esta expressão é uma forma coloquial de dizer que alguém morreu. A origem da expressão não é clara, mas é amplamente utilizada em Portugal. Por exemplo: “O avô do João bateu a bota ontem à noite.”

2. Esticar o pernil
Outra expressão coloquial para indicar que alguém faleceu. Mais uma vez, a origem é obscura, mas é uma expressão que se ouve frequentemente em conversas informais. Exemplo: “Depois de uma longa doença, ele acabou por esticar o pernil.”

3. Ir desta para melhor
Esta expressão é usada para suavizar a notícia da morte de alguém, sugerindo que a pessoa foi para um lugar melhor. Exemplo: “A tia Maria foi desta para melhor no domingo passado.”

4. Pagar o pato
Embora esta expressão seja mais frequentemente usada para indicar que alguém está a sofrer as consequências de algo, também pode ser usada no contexto da morte, especialmente se a pessoa morreu em circunstâncias injustas. Exemplo: “Ele acabou por pagar o pato naquela confusão e morreu.”

5. Passar desta para a outra
Uma forma mais suave de dizer que alguém morreu, semelhante a “ir desta para melhor”. Exemplo: “O senhor Joaquim passou desta para a outra ontem à noite.”

Tradições Funerárias em Portugal

As tradições funerárias em Portugal são profundamente influenciadas pela religião católica, embora existam variações regionais. Aqui estão algumas das práticas mais comuns:

1. Velório
O velório é uma vigília que se realiza antes do funeral, onde amigos e familiares se reúnem para prestar homenagem ao falecido. Normalmente, o corpo é colocado num caixão aberto, permitindo que os presentes se despeçam. O velório pode durar várias horas e, em algumas regiões, é comum que dure toda a noite.

2. Missa de corpo presente
Antes do enterro, é comum realizar-se uma missa de corpo presente na igreja. Esta cerimónia religiosa inclui orações e cânticos, e é uma oportunidade para os presentes expressarem a sua dor e solidariedade. A missa é geralmente conduzida por um padre e pode incluir leituras da Bíblia e hinos religiosos.

3. Cortejo fúnebre
Após a missa, realiza-se o cortejo fúnebre, onde o corpo é levado até ao cemitério. Os familiares e amigos seguem o caixão em procissão, muitas vezes a pé, numa demonstração de respeito e luto. Em algumas regiões, é comum as pessoas levarem flores para colocar no túmulo.

4. Enterro
No cemitério, realiza-se a cerimónia de enterro, onde o caixão é colocado na sepultura. O padre pode fazer uma última oração e os presentes podem atirar flores ou terra sobre o caixão como um gesto simbólico de despedida. Em algumas regiões, é comum os homens retirarem o chapéu como sinal de respeito.

5. Luto
O período de luto varia de acordo com a relação com o falecido e as tradições locais. É comum os familiares mais próximos usarem roupas pretas durante um período de tempo, que pode variar de alguns dias a um ano. O luto também pode incluir a abstenção de festas e celebrações durante este período.

Superstições e Crenças Populares

Além das tradições religiosas, existem muitas superstições e crenças populares relacionadas com a morte em Portugal. Estas crenças variam de região para região e são muitas vezes passadas de geração em geração.

1. Toque dos sinos
Em muitas aldeias portuguesas, o toque dos sinos da igreja anuncia a morte de um membro da comunidade. O número de toques pode variar consoante o sexo do falecido: três toques para um homem e dois toques para uma mulher. Este costume serve para informar a comunidade e convidar as pessoas a participar nas cerimónias fúnebres.

2. Espelhos cobertos
Em algumas regiões, é costume cobrir os espelhos da casa onde ocorreu a morte. Acredita-se que os espelhos podem capturar a alma do falecido ou que ver o próprio reflexo num espelho após uma morte pode trazer má sorte.

3. Velas acesas
Acender velas é uma prática comum em muitas tradições religiosas, e em Portugal, as velas são frequentemente acesas em memória do falecido. A chama da vela simboliza a alma e a luz eterna, e é comum ver velas acesas nas casas e nas igrejas durante o período de luto.

4. Fotografias viradas para baixo
Em algumas famílias, é costume virar as fotografias do falecido para baixo ou cobri-las durante o velório e o funeral. Acredita-se que isto ajuda a alma a fazer a transição para o outro mundo sem se sentir presa ao mundo dos vivos.

5. Chorar a alma
Em certas regiões, especialmente no Norte de Portugal, existe a tradição de “chorar a alma”, onde um grupo de mulheres, conhecidas como carpideiras, são contratadas para chorar e lamentar a morte do falecido. Esta prática tem raízes antigas e acredita-se que ajuda a alma a encontrar paz.

A Influência da Literatura e do Folclore

A morte é um tema recorrente na literatura e no folclore portugueses. Muitos escritores e poetas exploraram a morte nas suas obras, oferecendo reflexões profundas sobre a mortalidade e a vida após a morte.

Fernando Pessoa, um dos maiores poetas portugueses, escreveu extensivamente sobre a morte. Em muitos dos seus poemas, Pessoa aborda a inevitabilidade da morte e a busca por um significado mais profundo na vida. A sua obra oferece uma visão complexa e multifacetada da morte, refletindo tanto o medo como a aceitação.

No folclore português, existem muitas histórias e lendas que envolvem a morte e o além. Por exemplo, a lenda da Dama Pé de Cabra fala de uma mulher misteriosa com um pé de cabra que leva os homens para o outro mundo. Esta lenda é uma metáfora para a sedução da morte e a inevitabilidade do destino.

Conclusão

A morte é um tema complexo e multifacetado na cultura portuguesa, refletido tanto na linguagem como nas tradições. As expressões idiomáticas oferecem uma visão sobre como os portugueses lidam com a morte no dia-a-dia, enquanto as tradições funerárias e as superstições revelam as profundas raízes culturais e religiosas que moldam a forma como a morte é percebida e vivida.

Para os aprendizes da língua portuguesa, compreender estas expressões e tradições é uma forma importante de se conectar com a cultura e a história de Portugal. Através desta compreensão, é possível apreciar a riqueza e a profundidade da língua, bem como a maneira única como os portugueses encaram a vida e a morte.

A aprendizagem de uma língua vai além da gramática e do vocabulário; envolve também a compreensão das nuances culturais e das tradições que moldam a comunicação e a expressão. Ao explorar temas como a morte, os alunos podem desenvolver uma apreciação mais profunda e completa da língua portuguesa e da cultura que a sustenta.

Esperamos que este artigo tenha proporcionado uma visão abrangente e esclarecedora sobre as expressões e tradições relacionadas com a morte em Portugal. Ao familiarizar-se com estas práticas e crenças, os aprendizes de português podem enriquecer a sua compreensão da língua e da cultura, tornando-se comunicadores mais competentes e culturalmente sensíveis.

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