As Origens da Língua Armênia
A língua armênia pertence ao grupo das línguas indo-europeias, o que a coloca na mesma família linguística do inglês, português, russo, entre outras. No entanto, a sua evolução seguiu um caminho bastante único. As primeiras evidências da língua armênia escrita datam do século V d.C., mas a língua falada é certamente muito mais antiga.
Os estudiosos acreditam que os armênios são descendentes dos povos indo-europeus que migraram para a região do Cáucaso e da Anatólia há milhares de anos. Esses povos trouxeram consigo a sua língua, que ao longo do tempo evoluiu e se diferenciou das outras línguas indo-europeias.
O Alfabeto Armênio
Uma das maiores contribuições para a preservação e desenvolvimento da língua armênia foi a criação do seu próprio alfabeto. Em 405 d.C., o monge e estudioso Mesrop Mashtots criou o alfabeto armênio, que consiste em 36 letras. Esta criação foi um marco significativo, pois permitiu a tradução da Bíblia para o armênio e a produção de uma vasta literatura religiosa e secular.
O alfabeto armênio não só facilitou a disseminação da língua escrita, mas também desempenhou um papel crucial na unificação cultural e política do povo armênio. A partir desse ponto, a língua armênia tornou-se um símbolo de identidade nacional e resistência cultural.
A Evolução da Língua
A história da língua armênia pode ser dividida em três períodos principais: armênio clássico, armênio médio e armênio moderno.
Armênio Clássico
O período do armênio clássico, também conhecido como Grabar, vai do século V ao século XI. Este foi o período em que a maioria das obras literárias e religiosas importantes foram escritas, incluindo a tradução da Bíblia. O Grabar é caracterizado por uma gramática complexa e um vocabulário rico, refletindo a alta cultura e a sofisticação da sociedade armênia da época.
O Grabar foi a língua da literatura, da ciência e da religião, e permaneceu relativamente estável durante vários séculos. No entanto, como qualquer língua viva, o armênio falado continuou a evoluir.
Armênio Médio
O período do armênio médio vai do século XI ao século XVII. Este período foi marcado por grandes mudanças linguísticas, influenciadas pelas invasões e ocupações de diferentes povos, incluindo os seljúcidas, mongóis e turcos. Durante este tempo, a língua armênia absorveu muitos empréstimos linguísticos e sofreu alterações gramaticais e fonéticas.
O armênio médio é menos formal e complexo do que o Grabar, refletindo as mudanças sociais e políticas da época. Este período também viu a produção de uma rica literatura popular, incluindo épicos, poemas e contos.
Armênio Moderno
O armênio moderno, que começa no século XVIII e continua até os dias de hoje, pode ser dividido em duas variantes principais: o armênio oriental e o armênio ocidental. Estas variantes surgiram devido à divisão geográfica e política do povo armênio entre o Império Russo e o Império Otomano.
Armênio Oriental
O armênio oriental é falado principalmente na Armênia, no Irã e em algumas comunidades da diáspora. Esta variante é baseada no dialeto de Yerevan e foi influenciada pelo russo e pelo persa. O armênio oriental é a língua oficial da República da Armênia e é utilizado em todas as esferas da vida pública e privada.
Armênio Ocidental
O armênio ocidental é falado principalmente pela diáspora armênia, especialmente em países como o Líbano, Síria, França e Estados Unidos. Esta variante é baseada no dialeto de Constantinopla (atual Istambul) e foi influenciada pelo turco e pelas línguas europeias. Embora não tenha um status oficial em nenhum país, o armênio ocidental é mantido vivo por meio de escolas, igrejas e organizações comunitárias.
O Papel da Igreja e da Literatura
A Igreja Apostólica Armênia desempenhou um papel crucial na preservação e desenvolvimento da língua armênia. Desde a criação do alfabeto por Mesrop Mashtots, a Igreja tornou-se a guardiã da língua e da cultura armênia. A maioria das obras literárias importantes, incluindo traduções da Bíblia e hinos religiosos, foram produzidas por clérigos.
Além da literatura religiosa, a Armênia tem uma rica tradição de literatura secular. Obras épicas como “David de Sassun” e poemas de autores como Hovhannes Shiraz e Paruyr Sevak são marcos importantes na literatura armênia. Estas obras não só enriquecem a língua, mas também fortalecem a identidade e a coesão do povo armênio.
A Importância da Diáspora
A diáspora armênia desempenhou e continua a desempenhar um papel vital na preservação e promoção da língua armênia. Após o genocídio armênio de 1915, milhões de armênios foram forçados a deixar a sua pátria e a estabelecer-se em países estrangeiros. Apesar das dificuldades, as comunidades da diáspora conseguiram manter viva a língua e a cultura armênia.
Escolas, igrejas e organizações comunitárias em países como os Estados Unidos, França, Líbano e Argentina oferecem aulas de armênio e promovem a literatura e a arte armênia. Estas iniciativas são fundamentais para garantir que as novas gerações de armênios da diáspora continuem a falar e a valorizar a sua língua ancestral.
Desafios e Perspectivas Futuras
Apesar dos esforços para preservar a língua armênia, esta enfrenta vários desafios. Na Armênia, a influência das línguas estrangeiras, especialmente do russo e do inglês, é forte. Muitos jovens armênios preferem falar estas línguas, especialmente em contextos profissionais e académicos.
Na diáspora, a assimilação e a perda de fluência são problemas significativos. Muitas crianças armênias crescem falando a língua do país de acolhimento e têm pouco contacto com o armênio. As escolas comunitárias e as iniciativas culturais são essenciais para combater esta tendência, mas enfrentam dificuldades financeiras e logísticas.
No entanto, há também razões para otimismo. A tecnologia moderna oferece novas oportunidades para o ensino e a promoção da língua armênia. Aplicações de aprendizagem de línguas, cursos online e redes sociais permitem que os armênios de todo o mundo se conectem e pratiquem a sua língua. Além disso, há um renovado interesse pela cultura e pela identidade armênia entre as novas gerações, o que pode ajudar a revitalizar a língua.
Conclusão
A história da língua armênia é um testemunho da resiliência e da criatividade do povo armênio. Desde as suas origens antigas até os desafios e oportunidades do mundo moderno, a língua armênia continuou a evoluir e a adaptar-se, preservando ao mesmo tempo a sua essência única.
Para os estudantes de línguas, explorar a história da língua armênia oferece uma visão fascinante das interações entre língua, cultura e identidade. A aprendizagem do armênio não é apenas uma porta de entrada para uma rica tradição literária e cultural, mas também um ato de solidariedade com um povo que valoriza profundamente a sua língua e a sua herança.
Seja como parte de um interesse académico, cultural ou pessoal, estudar a língua armênia é uma maneira de participar numa história contínua de resistência e renovação. Ao fazê-lo, contribuímos para a preservação e o enriquecimento de uma das línguas mais antigas e resilientes do mundo.