A Vida dos Pastores
A vida dos pastores transmontanos é caracterizada por uma rotina diária que começa ao amanhecer e se prolonga até ao anoitecer. O dia típico de um pastor começa bem cedo, com a condução do rebanho até aos pastos. Durante o verão, quando as temperaturas sobem, os pastores costumam levar os seus rebanhos para altitudes mais elevadas, onde a vegetação é mais abundante e fresca. No inverno, a transumância é essencial para procurar zonas mais amenas e com alimento disponível.
O pastor transmontano é um guardião da tradição, mantendo viva a prática da transumância. Esta prática envolve a migração sazonal dos rebanhos entre pastagens de verão e de inverno, uma necessidade ditada pelo clima rigoroso da região. A transumância não é apenas uma técnica de pastoreio; é também um ritual cultural que envolve uma série de práticas e conhecimentos transmitidos de geração em geração.
A Ligação com os Animais
Os pastores desenvolvem uma ligação muito especial com os seus animais. A maioria dos pastores transmontanos cuida de ovelhas e cabras, mas também há quem se dedique à criação de bovinos. Estes animais são a principal fonte de sustento das famílias, fornecendo leite, carne, lã e até estrume para fertilizar os campos.
O cão de pastor é um elemento imprescindível na vida dos pastores. Estes cães são treinados desde jovens para ajudar a conduzir e proteger o rebanho. A relação entre o pastor e o seu cão é de confiança mútua e cumplicidade, e muitas vezes o cão é visto como um membro da família.
O Cão de Gado Transmontano
O cão de gado transmontano, também conhecido como cão de Castro Laboreiro, é uma raça autóctone e desempenha um papel crucial na proteção dos rebanhos contra predadores. Estes cães são conhecidos pela sua lealdade, inteligência e coragem. São capazes de enfrentar lobos e outros predadores, garantindo a segurança dos animais sob a sua guarda.
As Tarefas Diárias
As tarefas diárias de um pastor transmontano vão muito além da simples condução do rebanho. Entre as várias responsabilidades, destacam-se a ordenha, a tosquia e a produção de queijo. A ordenha é uma tarefa que requer habilidade e paciência, e é geralmente realizada duas vezes por dia. O leite obtido é muitas vezes utilizado para fazer queijo, uma das iguarias mais apreciadas da região.
A tosquia é um evento anual que envolve a remoção da lã das ovelhas. Este processo é feito manualmente ou com a ajuda de máquinas, e exige muita destreza. A lã obtida é depois lavada, cardada e fiada, sendo utilizada para fazer roupas e outros artigos têxteis.
A Produção de Queijo
A produção de queijo é uma das atividades mais importantes e tradicionais dos pastores transmontanos. O queijo de ovelha e de cabra é famoso pela sua qualidade e sabor únicos, resultantes das condições naturais da região e do método artesanal de produção.
O Queijo de Cabra Transmontano
O queijo de cabra transmontano é um produto de excelência, conhecido pelo seu sabor intenso e textura cremosa. A produção deste queijo envolve várias etapas, desde a ordenha das cabras até à cura do queijo. O processo de cura é essencial para desenvolver o sabor e a textura desejados, e pode durar desde algumas semanas até vários meses.
As Festas e Tradições
As festas e tradições são parte integrante da cultura dos pastores transmontanos. Uma das celebrações mais importantes é a Festa da Transumância, que marca o início e o fim das migrações sazonais dos rebanhos. Durante esta festa, os pastores e as suas famílias reúnem-se para celebrar com música, dança e comidas típicas da região.
Outra tradição muito importante é a Festa de Santo Amaro, padroeiro dos pastores. Esta festa, que se realiza em janeiro, é uma ocasião para pedir proteção para os rebanhos e agradecer pelas boas colheitas. Durante a festa, é comum ver procissões, missas e outras atividades religiosas, bem como bailes e convívios que fortalecem os laços comunitários.
Desafios Modernos
A vida pastoral em Trás-os-Montes enfrenta diversos desafios na contemporaneidade. A desertificação rural e o envelhecimento da população são problemas graves que ameaçam a continuidade desta forma de vida. Muitos jovens optam por abandonar o campo em busca de melhores oportunidades nas cidades, deixando para trás uma tradição milenar.
No entanto, há esforços para revitalizar a cultura pastoril. Projetos de turismo rural e iniciativas de apoio à agricultura sustentável são algumas das estratégias adotadas para atrair novas gerações de pastores. Além disso, a valorização dos produtos locais, como o queijo e a lã, tem contribuído para aumentar a rentabilidade da atividade pastoral.
O Papel das Mulheres
As mulheres desempenham um papel fundamental na cultura dos pastores transmontanos. Embora o pastoreio seja muitas vezes visto como uma atividade masculina, as mulheres estão envolvidas em quase todas as tarefas, desde a ordenha até à produção de queijo e à criação dos filhos. Muitas vezes, são as mulheres que gerem as finanças da família e organizam as atividades diárias.
Mulheres Pastoras
Nos últimos anos, tem-se verificado um aumento do número de mulheres que assumem o papel de pastoras. Estas mulheres trazem uma nova dinâmica à atividade pastoral, muitas vezes introduzindo técnicas inovadoras e novas formas de gestão. A sua presença é um sinal de mudança e de adaptação às novas realidades sociais e económicas.
Educação e Transmissão de Conhecimentos
A educação é um elemento crucial para a continuidade da cultura pastoril. Os conhecimentos e as técnicas de pastoreio são tradicionalmente transmitidos de pais para filhos, num processo de aprendizagem que começa desde tenra idade. No entanto, com a modernização e a globalização, tem-se tornado cada vez mais importante complementar esta aprendizagem tradicional com uma formação mais formal e técnica.
Escolas de Pastoreio
Em resposta a esta necessidade, têm surgido escolas de pastoreio e programas de formação que visam capacitar os jovens pastores com as competências necessárias para enfrentar os desafios modernos. Estas escolas oferecem cursos que vão desde a gestão de rebanhos até à produção de queijo, passando por técnicas de marketing e venda de produtos.
Conclusão
A cultura dos pastores transmontanos é um testemunho vivo da resiliência e da adaptação de uma comunidade às condições adversas. Apesar dos desafios, esta forma de vida continua a prosperar, graças ao empenho e à dedicação dos pastores que mantêm viva a tradição. A ligação profunda com a terra e os animais, as festas e tradições, e a transmissão de conhecimentos de geração em geração são elementos que tornam esta cultura única e valiosa.
A preservação da cultura pastoral transmontana não é apenas uma questão de manter vivas as tradições; é também uma forma de garantir a sustentabilidade das comunidades rurais e a proteção do ambiente. Ao valorizar e apoiar os pastores, estamos a contribuir para a conservação de uma parte importante do nosso património cultural e natural.